O evangelho deste v domingo leva-nos à iminência da paixão, que começa no capítulo 13 com a Última Ceia de Jesus com os seus discípulos.
João fala da capacidade de Jesus para atrair as pessoas: o contexto é o da festa da Páscoa, em que, entre os muitos que subiram a Jerusalém, há também gregos que desejam ver Jesus. A história é bastante peculiar: os gregos falam com Filipe, Filipe fala com André, depois Filipe e André apresentam o facto a Jesus (Jo 12,21-22). Por fim, todas estas personagens desaparecem e não se sabe como terminou a história, se os gregos encontraram Jesus ou não. A resposta, porém, está lá e é precisamente a passagem que ouvimos: «Atrairei todos a mim.» À pergunta sobre a possibilidade de O verem, Jesus responde dizendo que todos O verão quando Ele for elevado da terra e atrair todos a Si. Jesus revela a lógica profunda que animou toda a sua existência e que terminará na hora da sua paixão, que já chegou (cf. 2,4; 7,30). Fá-lo através uma brevíssima parábola, a do grão de trigo: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto» (Jo 12,24).
Nesta parábola esconde-se uma novidade que nos surpreende: Jesus afirma que há duas lógicas pelas quais é possível viver a vida: uma é a lógica da solidão, a outra é a lógica da comunhão. Uma vida fechada e concentrada em si mesma, é uma vida que permanece só, que conhece apenas os espaços estreitos do seu próprio eu. E está destinada a acabar. Uma vida perdida para os outros, uma vida que ama e se dá, é uma vida que entra numa lógica de relação e é uma vida que se realiza. Jesus sabe bem que a escolha da lógica da comunhão tem um preço, e esse preço é a sua morte, a entrega de si mesmo nas mãos daqueles que podem fazer dele o que quiserem; e perante esta perspetiva, Ele fica profundamente perturbado (Jo 12,27).
A hora da paixão, neste momento, torna-se a hora da glória (Jo 12,23), a hora da plena revelação da verdade, isto é, do amor de Deus: um amor tão grande e forte que pode transformar a morte em vida. Jesus será «elevado» (Jo 12,32): uma única palavra para dizer ao mesmo tempo cruz e glória, porque cruz e glória são doravante inseparáveis. E desta elevação nascerá um povo novo, ao qual todos poderão aderir: «E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12,32).
Todos aqueles que escutam no fundo do seu coração a atração profunda que um tal amor pode suscitar, para além de toda a derrota e fracasso aparentes, entram numa nova lógica de vida e seguem o Senhor, onde Ele está (Jo 12,26). No domingo passado, fomos convidados a olhar para a serpente levantada no deserto (Jo 3,14), para obter a cura e a vida. Hoje, somos convidados a levantar de novo o nosso olhar para Jesus levantado na cruz, nossa salvação. Se o nosso olhar permanecer fixo n’Ele, nesta contínua necessidade de salvação, experimentaremos o seu poder de atração, que nos salva das muitas distrações da vida e nos une no único e profundo desejo de comunhão e de amor, com Ele e uns com os outros.
Pe. Pedro Rodrigues